
Era madrugada, quando ele passava por ali. Achou estranho, de fato, uma estrada que apresentasse uma mata tão fechada e densa, logo ali naquela parte da cidade. Pensou que deveria ser muito bonita pela manhã, mas àquela hora parecia mais uma ponta para o castelo de Nosferatu, ou algo parecido.
Quanto ao Nosferatu, não conseguia tira-ló da cabeça, havia escutado Cradle of Filth o dia inteiro antes de sair de casa de sua amiga naquela tarde, e isso exaltara seus sentidos obscuros. A temática vampírica da banda combinava perfeitamente com aquele retrato grotesco da estrada, pensou ele.
Pensou também em ligar o rádio, e curtir um terror com acompanhamento musica naquele momento, mas a notícia na estação inicial chamou a atenção.
Parecia que estava captando o chamado de um carro de polícia, logo provavelmente ele estava ali por perto. Parecia relatar um príncipio de incêndio, mas após uma espécie de zumbido metálico a mensagem cessou.
Assustado, desligou o rádio e continuou dirigindo, agora com um desejo incomum de de chegar em casa. Logo depois, não precisou rodar muito para ver algo que o perturbou.
Dois carros parados, diabolicamente paralelos, foi a visão que teve, naquela estrada nebulosa que não tinha fim. Ficou parado uns instantes, perplexo sem saber o que fazer.
O carro da frente era uma viatura, com a sirene ainda ligada e uma das portas abertas. A estrada estava semi-bloqueada, logo, após muito êxitar, resolveu dar uma olhada.
No carro de polícia não havia nenhum restício humano por mais que procurasse. Apesar disso, o rádio estava com a frente estourada, e naum reproduzia mais do que um fraco zumbido.
Já do carro de polícia teve uma tenebrosa visão do outro carro. Duas pessoas pareciam estar paradas cada uma em um banco. Foi até lá e abriu a porta do moterista.
A esta altura não aguentou de medo. Um grito estridente ecoou por toda floresta, ou bosque, ou sejá lá o que fosse aquele amontoado de árvores que beiravam a estrada.As duas pessoas no banco da frente estavam mortas. Eram cadáveres de fato, tinham os pescoços cortados e as faces pálidas, o sangue ainda cheiravam a um frescor escarlate. Era um casal, e tinham uma expressão horrorizada no rosto.Já o rosto de nosso amigo remetia às mais misturadas sensações e sentimentos humanos que alguém poderia sentir. Tudo, a floresta, o sangue ,o cheiro a música, que ainda ecoava em sua cabeça, sem contar o choro...
Nesse ponto até ele se surprendeu. De onde viria um choro àquela altura. Com muito receio, espiou o branco traseiro. Era uma criança, embrulhada em um casaco amarelo.
A criança possuía uma imensa cabeça, o que provocou nele até um princípio de risada, afinal notar algo assim numa situação como aquela só podia ser mesmo digno de um sádico, ou qualquer coisa que o valha.
Logo depois dessas reflexões bizarras, a realidade cai à tona, e correu para abraçar a criança e em um movimento repentino, que não deve ter durado mais do que alguns segundos, enfiou-se no carro junto da criança e numa manobra brusca e arriscada desviou da barreira de carros que bloqueava a estrada.
-Criança, o que aconteceu? Aquelas pessoas eram seus pais? Por favor, sei que é dificil, mas você tem que me contar algo. Era algum assasino, estrupador, que diabos aconteceu aos seus pais?
A criança agora não chorava mais. Nosso amigo viu no retrovisor aquela criatura transformar seu choro, primeiro numa expressão do mais puro e inocente terror, depois no mais pasmo e medíocre estupefamento, e ainda na mais sárcastica gargalhada que já ouvirá.
Antes que ele pudesse entender algo, a tal criança já havia sacado o punhal do casaco, amarelo por fora, e vermelho, rubréo hemogoblimático por dentro, e enfiou garganta adentro do rapaz. O sangue jorrava no volante, e a faca lambuzada reluzia naquela noite escura, de lua encoberta pela densidade das árvores. A criança tirou o excesso de sangue, e guardal novamente sua arma letal no casaco, desatando, "inexplicávelmente", num choro ainda mais forte, esperando a sua sobremesa para aquela noite.
Um comentário:
Que coisa mais macabra!
Credo!
Postar um comentário